As minhas Guerreiras

Existem pessoas que levam os nossos sentimentos e emoções a uma intensidade máxima. A esse tipo de pessoas chamo de avós. São pessoas únicas, afetuosas, inesquecíveis, simbolizam uma união sem explicação, união que é e foi gerada de pais para filhos e de filhos para netos.

Na minha vida existe, tal como o nome indica, duas guerreiras. Não usam espadas, nem armações, nem nada que se pareça, mas sei perfeitamente que deram o “corpo às balas” por todos aqueles que as rodeiam.

Cada cicatriz, cada ferida, cada ruga tem uma história. Desde muito nova aprendi a olhar para as minhas avós como se elas fossem um modelo de conhecimento e, quanto mais conhecia do quotidiano e das pessoas que nos rodeavam, mais as admirava e me apercebia da força e garra que tinham.

É graças a estas duas MULHERES que hoje tenho tudo o que tenho e sou tudo o que sou. Estas duas mulheres trouxeram ao mundo os meus pais, passaram a cada um os valores necessários, ensinaram a cada um aquilo que precisavam para viver, tornaram cada um num grande ser humano.

Tenho muito orgulho em ter duas avós guerreiras, com tantas histórias de luta e conquista ainda por contar, com tantos exemplos de força e superação na vida.

Infelizmente, esta vida nem sempre é justa e, ainda hoje, são obrigadas a ultrapassar obstáculos que lhes são colocados. Obstáculos esses que me fazem ter orgulho, que me fazem querem guardá-las para sempre e que me fazem ter medo por elas.

Muitas vezes dá vontade de parar o mundo para que elas sejam eternas, dá vontade de trocar de papeis com elas para que consigam ter um bocado de descanso. Acho que é no momento em que elas deveriam de ter descanso e paz, que o ciclo de vida delas se torna outra vez num furacão, numa turbulência tremenda e aperta com os nossos corações como se não tivesse fim a dor.

As minhas avós sempre enfrentaram todas as dificuldades pelas quais passaram de cabeça erguida. Recordo-me das histórias com o maior orgulho e vivo feliz com a ideia de que tenho na minha família duas das pessoas mais lutadoras que algum dia conheci ou irei conhecer.

A vida foi ingrata. Aos quase 88 anos a vida pregou à "vó" Glória uma partida. Mais uma. Dentro de tantas outras pelas quais passou.

O alzheimer.. Viver com um doente de Alzheimer é viver em alerta constante, viver com o coração apertado todos os dias e tenho a certeza que só quem convive diariamente com a doença irá conseguir identificar-se com o que eu estou a escrever.

Na última vez que a fui visitar, lembro-me que quando me viu, os seus olhos já passavam o ar de interrogação. Aproximei-me, dei-lhe um beijo e ouvi  "quem és tu?", expliquei, mas sei perfeitamente que não se recordava.

Sei que há momentos em que é preciso ser dura, sem perder a força, sem perder a fé, sem deixar que esta doença leve, da minha avó, o melhor que ela tem. O que me custa é a ideia de não ter identidade.

O AVC..  Resulta da lesão das células cerebrais, que morrem ou deixam de funcionar normalmente, pela ausência de oxigénio e de nutrientes na sequência de um bloqueio do fluxo de sangue ou porque são inundadas pelo sangue a partir de uma artéria que se rompe.

A "vó" Alice passou por momentos destes várias vezes, sendo que é uma doença que suga a vida aos poucos. Vai roubando, a pouco e pouco, a beleza da vida.

A vida foi muito dura, foi muito injusta, passou e passa por coisas devido à falta de honestidade das pessoas, devido à falta de carácter e devido à falta de escrúpulos da sociedade.

A "vó" Alice durante todo o tempo de vida trabalhou imenso pela família, deu tudo e até o que não tinha, prejudicou muito a sua saúde para que nunca faltasse nada na mesa... Devido a isto tudo e a uma sucessão de AVC's tem a mobilidade muito muito reduzida e a comunicação muito afetada.

A "vó" nunca foi assim, mas tornou se muito frágil, vulnerável ao ponto de não aguentar certas situações agora e desanimar ao máximo.

Nasci e cresci a acreditar que elas são invencíveis, imbatíveis e heroínas. Que fique esta imagem, mas com a percepção do quanto elas são frágeis e sabem que, num piscar de olhos, podem não estar mais por aqui.

Amo as de coração e são sem dúvidas as GUERREIRAS da minha vida!